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Guaiúba é uma cidade repleta de encantos. Sua natureza, seu povo e sua história nos despertam um fascínio inexplicável. Simples e ao mesmo tempo extraordinário. Guaiúba significa “por onde vêm as águas do vale”, assim definida a tradução do tupi por José de Alencar.

 

Guaiúba é berço de uma imensa riqueza cultural e artística. Nessa cidade cheia de surpresas encontramos os mais variados tipos de artistas que se possa imaginar. Nas suas diferentes classes sociais, nas suas diferentes crenças e religiosidade, nas suas diferentes raças e idades, encontramos os mais variados artistas existentes em uma sociedade.
 

Aqui temos músicos, atores, pintores, dançarinos, escritores, poetas e compositores, um verdadeiro celeiro de grandes artistas. A classe artística é um de nossos maiores orgulhos. O nosso folclore envolve lendas e contos cheios de mistérios. É uma verdadeira maravilha sentar nas calçadas e ouvir aquelas histórias fascinantes que os nossos avós contam a respeito de suas experiências passadas, com muita empolgação e veracidade.
 

Nossa linda cidade tem muitas manifestações populares. As quadrilhas juninas fizeram histórias. O bumba meu boi diverte a todos com suas fantasias coloridas e ao mesmo tempo assustadoras. O reisado de porta se destaca no meio de tantas outras manifestações, pois é muito aguardado com suas músicas no dia 05 de Janeiro.
 

Desde a sua origem até a época atual a nossa cidade e cultura se desenvolveu de forma singela. O tempo passou e ela se manteve simples e viva, do seu jeito e seu modo. Suas tradições e costumes se transmitem, mas é o artista, o povo, a comunidade, que fazem com que o município  mantenha-se contemporâneo ao seu tempo e lugar.
 

Nosso povo tem identidade. Nossa gente tem história. Aqui tudo vira festa. Aqui tudo é sonho. Aqui tudo é criatividade. Cada um traz consigo a magia da arte.
 

E o que seria de nossa Guaiúba sem a nossa arte? É através dela que a nossa cultura se manifesta e encanta a todos. Temos em Guaiúba um dos maiores equipamentos culturais do estado do Ceará o Centro de Arte e Cultura Portal da Serra conhecido como CEARC onde os próprio filhos da terra são os professores de cursos de artes do lugar.

 

Além dos lindos vales, açudes, lagos, cachoeiras, árvores e os serrotes que enfeitam a Aratanha. Guaiúba já foi vila, já foi uma das maiores exportadoras de produtos agrícolas de Fortaleza através da linha de ferro e de sua tradicional estação ferroviária, hoje patrimônio histórico do nosso lugar, assim também como o mais antigo templo religioso, a Igreja Matriz.

 

Guaiúba é cortada ao meio pela BR-060 e em sua encosta existe o calçadão que onde o povo se reúne sentado o dia inteiro pra conversar, onde se instala também o centro da cidade com comércios e a famosa Praça do Santo Cruzeiro, onde acontecem as festas do município todo 17 de março e, em setembro, a festa do padroeiro com parques, leilões e muita música. Tem também o mais antigo clube da região conhecido como forró do Gojoba, onde a moçada vai namorar.

 

Guaiúba é um ótimo lugar pra se viver e morar, cidade tranquila de beleza natural, de povo hospitaleiro e trabalhador.

Apesar disso, a mão de obra é escassa na serra. “É difícil encontrar pessoas dispostas a trabalhar”, desabafa Natalia Braga , que cuida junto com o marido de um sítio na serra. O casal encontra dificuldades para encontrar pessoas que queiram trabalhar na serra, um dos motivos é a subida íngreme e inclinada.

 

Gradualmente, as vias estreitas, que dão acesso à serra, vão perdendo a estabilidade. Os degraus ficam mais altos e a respiração acelera. Parte de nós já ficou para trás. Seguir é a única solução. As escadas se desfazem naturalmente, os degraus se perdem. As rochas e os troncos grossos são os nossos únicos apoios. A promessa do guia Piqué de que a caminhada ficaria melhor a alguns metros dali, já não convencia. A casa de Natalia seria a salvação para as pernas que não conseguiam mais andar, era hora de parar e descansar.

A cidade

A serra de Guaiúba é conhecida pela sua riqueza hídrica. Os açudes, as cachoeiras, as lagoas e os mananciais estão presentes durante todo o percurso pelo som da água que faz coro com o das árvores. No começo da trilha é possível avistar o brilho do Açude da Corte fazendo contraste com a casa de Francisco Ventura de Souza, o Franco. Gerido anteriormente pela Companhia de Água e Esgoto do Ceará (CAGECE), hoje o açude está nas mãos da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Ceará (COGERH), que impede Francisco de plantar na área da serra ou usar a água para ajudar na plantação, a área reservada para plantação está na propriedade que toma de conta.

 

Uma das duas formas de renda do morador é o plantio de milho. Apesar da dificuldade em razão da seca nos anos anteriores, o agricultor se sente mais esperançoso com a chegada das chuvas que aconteceu no início do ano. Todavia, não há previsão da safra para 2017. O negócio já foi lucrativo: cada saca de milho custava 70 reais. Franco chegava a vender seis sacas por estabelecimento comercial. Hoje, os comerciantes preferem comprar de fora. A ajuda do Governo não veio ano passado. Beneficiário do Plano Safra, Francisco não recebeu o incentivo e  diz que moradores de outros municípios foram beneficiados, mas os de Guaiúba não. Ainda não há previsão de chegada do auxílio para este ano.

 

O agricultor, que vive em um barraco de barro, cuida daquele pedaço de terra e da casa que está mais alta que a dele. As mudas de roupas, os utensílios da casa, as ferramentas de trabalho e a casa são as únicas coisas que ele possui. Ao contrário de Franco, o dono das terras que ele cuida é proprietário de boa parte da serra. Segundo ele, o proprietário é dono de uma rede de hotéis à beira-mar de Fortaleza e, dificilmente vai ao local, enquanto Francisco adentra a mata todos os dias para trabalhar.

O segredo, aquele que seria revelado, está em frente a casa-branca: as pessoas que moravam antigamente na casa - assim como várias outras da serra -  guardavam o dinheiro em botijas, uma espécie de cofre, e enterravam nos barrancos da serra. A lenda conta que esse dinheiro enterrado se encantava e desaparecia. E, quando o dono falecia, a alma dele ficava atrás de alguém para entregar o dinheiro para que pudesse, então, ser salva e, a pessoa que encontrava ficava rica. Enquanto não, a alma não descansava. A última pessoa a se ter notícia que encontrou um botija enterrada na parede foi Zé do Carmo, falecido há muitos anos.

guaiuba

Nesse momento, nos sentimos completamente dentro do quadro visto no começo do dia. As realidades se chocam. Se no pé da serra, tudo parecia inalcançável e estático - um quadro pintado parado no tempo. De cima, a visão é a mesma da cidade.


Para quem mora em baixo, mas já foi da serra, a facilidade de locomoção, trabalho e o acesso fácil à saúde e educação são os motivos mais levados em consideração para o êxodo. Pra quem vive ainda em cima, sentir falta dessas regalias é comum. Mas não é motivo para descer. O silêncio, a paz e a segurança parecem ainda ser muito mais importantes para quem vive da serra para cima.  

A palavra Guaiúba tem dois significado: o primeiro, mais popular, foi traduzido do tupi-guarani, pelo escritor José de Alencar, e quer dizer: "por onde vem as águas do vale", o outro: bebida de lagoa

Trilha da Boa Viagem

Por onde vêm

- Italo Lucas

25/06/2017. Os postes de madeira fincados no chão guiam o caminho para a subida íngreme. O azul do céu limpo, a tela verde vista de frente e a areia amarela que empoeirava a visão dos nossos pés ficam para trás à medida que nos aproximamos da tela, que agora nos incorpora à pintura e nos faz descobrir que o verde sem fim é real, é próximo e guarda dentro de suas pedras um tesouro, que só mais tarde será descoberto. O quadro feito naturalmente se recria aos nossos olhos conforme Rinaldo Sousa Lopes, ou simplesmente Piqué, nos guia à serra de Guaiúba, localizada a 50km de Fortaleza.

 

Os postes já não fazem mais parte do cenário, assim como não fazem para quem vive na serra. Se no pé eles não seguram a luminosidade, na mata não levam iluminação às casas que lá estão. A luz dos olhos das pessoas, que resistem dentro da mata fechada, não é suficiente. A iluminação da lamparina, da lua e das estrelas são os únicos pontos de esperança para quem vive da serra para cima.

Verdes e as Urtigas

A superfície plana fica para trás quando passamos por um Centro Comunitário fechado desde o início da década de 1990. Se um dia o local foi marcado pela luta do povo serrano, hoje o mato ultrapassa as cercas e o eco é do latido do cachorro que corre para o portão quando percebe uma movimentação estranha. A mata que agora começa a se fechar, tem o chão duro e laranja. Enquanto as plantas, de cor vermelha são materializadas pelo o urucu, planta que dá origem ao que chamamos de colorau, mas que também foi usada por índios e escravos para se protegerem do Sol enquanto trabalhavam no local.

 

Os pés já tocam a serra de Guaiúba, parte da Aratanha. É o início do caminho de quem sobe os quase 900m de altitude do monte. A escada natural, lapidada há dois séculos pelos escravos, apresentam mais degraus ao passo que vamos adentrando a serra. Subir o caminho fechado faz com que as plantas nos toquem. O cheiro do verde e as urtigas marcam o começo da subida.

Donos da serra
Minas de café

O povoamento da cidade de Guaiúba se deu graças às terras propícias para a produção de café na serra no século XIX. No entanto, o local de trabalho dos serranos e que era vislumbrado para desenvolver a economia local foi cenário de um grande desmatamento durante o primeiro Governo de Getúlio Vargas. Antes a plantação de café era a principal fonte de renda da serra, mas o então presidente ordenou que cortassem a plantação. Segundo Piqué, o motivo era para que a economia de Minas Gerais pudesse crescer e a produção que saía do ceará não atrapalhasse a economia daquele estado. Depois de ser feito um reflorestamento é que foi possível reerguer a floresta. Hoje, a banana é a principal fonte de subsistência e movimenta a economia da município de Guaiúba.

A casa-branca

Depois de quase 3 horas andando, agora o destino era uma das casas mais antigas da serra, localizado a 750m de altitude. O casarão foi construído na metade do século XVIII pelos escravos que foram trazidos para o local. Tudo utilizado para a construção da casa foi extraído da serra. Desde o material para a colagem dos tijolos e as colunas feitas do tronco das árvores às telhas vermelhas com uma espessura mais volumosa.

 

A casa-branca de portas e janelas largas é dividida em dois andares, um deles no subsolo, onde possivelmente ficavam os escravos. A última vez que ela foi habitada foi na década de 1980. Olhando pelas brechas das portas e das janelas era possível ver utensílios que ainda continuavam na casa. Pratos, panelas, fogão a lenha e um pote de água posto em cima de uma mesa de madeira organizavam-se dentro da cozinha.

Se antes a força braçal escrava ajudou a levantar a construção secular, hoje as intervenções humanas na casa expressam os sentimentos de quem visita o local. As mensagens deixadas nas paredes brancas são, na sua maioria, feitas de carvão. Nomes, datas, letras de músicas, palavras de ordem foi integrada à história da serra. A voz involuntária nas paredes deixam nítido que a escravidão e a exploração hoje é outra.

Salvo pela botija
Vista do quadro

Se nas paredes da casa-branca há intervenção humana, na lagoa do sítio de Boa Vista, a 40 minutos de caminhada dali, a intervenção é da natureza. O verde se abre por um momento, é como se a curva da mata aberta nos recepcionasse com a majestade de um brilho intenso, para mostrar que há vida também naquele local. Se ali o céu é mais visível possível nos seus tons azuis, a lagoa, usada como reservatório de água para abastecer a casa, não tem a cor revelada. As folhas dos pés de palmeiras, catolé e babaçu se emaranham entre si em sintonia com o lago. A água já está tomada por raízes de plantas, o verde fica mais forte refletindo a luz do sol por cima da água.

 

Os últimos degraus subidos são para ver outra casa de barro. Se outrora o lugar foi plateia presenciando toda o desenvolvimento da cidade de Guaiúba, emancipada há exatamente 30 anos, hoje o abandono marca a situação da casa. Sem telhas, sem parte das portas, um pedaço da casa quebrada, o fogão a lenha, roupas em cima de bancos feitos de barro e muita madeira e telha no chão é o que ocupa a casa atualmente.

 

Na frente, grandes pedras que possibilitam subi-las e ter a visão que a casa tem: toda a maquete de Guaiúba. Na nossa frente, as casas vistas de cima parecem pintadas no chão. Os rios Pacoti e Riachão cortam a cidade e nossa visão. É possível ver toda a riqueza do município. Se antes a serra de Guaiúba era a nossa única visão na tela com o azul e o amarelo, agora ela está na lateral. O pintura principal é a da cidade. As casas, os prédios contrastam com cores e tamanhos diferentes.

- Auricélio Mendes, prof. de Artes Cênicas, Diretor Teatral da Cia de Teatro aos Trancos e Barrancos e Guaiúbano

Orgulho de ser Guaiubano

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