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Personagens

Raimundo Antônio do Nascimento tem 67 anos e desses, trabalhou 42 anos na mesma propriedade, na subida da Serra da Pacatuba. Com a fala enérgica e palavras fortes, o Seu Raimundo reclamou, esbravejou, e até abriu o coração sobre sua vida como caseiro, agricultor, diarista e trabalhador informal, sobre a crescente violência na serra e o desejo de ir para um lugar mais calmo. Seu Raimundo parece ser um homem difícil de conversar, mas pelo contrário, é faladeiro que só ele, o problema é quando cisma com um assunto. A dureza se deve ao tanto que Raimundo viveu: trabalhou nas três propriedades do patrão, perdeu dois dos seus quatro filhos, fumava 60 cigarros por dia e bebia por dois seguidos, tudo isso acompanhado apenas da esposa, sua companheira até hoje. Hoje, idoso e cansado, Seu Raimundo quer descer, mas o patrão não ajuda, então ele segue seus dias guardando a entrada da Serra de Pacatuba.

Pacatuba

Há dez anos, Maria do Socorro Gomes apaixonou-se, e por amor, largou a vida de professora em Caucaia e subiu a Serra da Pacatuba com seu esposo Caiol. Help, como é conhecida por todos, hoje é cozinheira, vive com o marido e o sobrinho numa casinha próxima à cachoeira, onde termina o contato com a urbanização, já que é o último ponto da serra com energia elétrica. As portas da casa de Help estão abertas para os visitantes e os banquinhos embaixo da árvore parecem estar ocupados sempre, o motivo ficou evidente após meia hora de conversa: o riso constante e a conversa fácil de Help são cativantes, parece até que a gente encontrou uma amiga de longa data perdida no meio da Aratanha.

Francisco Carlos Lopes Braga, nascido e criado no Boaçu, mora na Serra da Pacatuba há 47 anos. Dine, como é chamado desde menino, vive na mesma casa há 27 anos. A primeira vista, o agricultor é quieto, meio encabulado, mas simpático. Em alguns minutos de conversa, Dine nos revelou que nunca teve energia elétrica em casa e que a sua única companhia é um radinho de pilhas, já que a esposa desceu pra cidade para se tratar de uma doença e morar com os filhos. Sozinho no meio da serra, Dine dedica sua vida a rotina de trabalho: levantar às seis, regressar às onze, sair às duas e voltar ao entardecer para junto de seu radinho. Sem visitar a família em Fortaleza há 15 anos, ele não esconde o desejo de descer para juntar-se aos familiares, apesar de gostar da vida serrana.

Maranguape

Adriano Soares desce e sobe a serra correndo. O guia que já trabalha há 25 anos na profissão, conhece a serra de Maranguape como a palma da mão, que a todo instante aponta para um novo lugar mostrando a quem não conhece os encantos da local. A intimidade de Adriano com o lugar fica evidente com conhecimento da fauna e flora. O tipo, a idade, o cheiro são conhecidos apenas com o olhar castanho do guia. O respeito ao lugar é segurado com a mão direita e guardado numa sacola branca, toda vez que Adriano baixa-se para pegar algum lixo deixado para trás.

Luis Dionísio da Silva para por alguns segundos sempre que é perguntado sobre algo. O idoso mora desde 1965 na serra de Maranguape. Mas, também viveu uma parte da vida na serra de Pacatuba. Problemas nos joelhos fizeram com que ele parasse de trabalhar na agricultura. A vida toda ele esteve em contato com a natureza e, nos últimos anos, com os livros. A fala mansa e os olhos atentos do senhor, que em alguns momentos para no tempo olhando para o nada, são de quem sente a saudade do tempo, mas que agradece imensamente pelo presente.

Edmar Barbosa de Oliveira, o idoso de riso frouxo e audição já prejudicada, traz consigo marcas, expostas no cabelo branco e na pele engiada, a experiência de quem já vive há 15 anos ali naquele pedaço de terra, mas que morou a vida toda na serra. O senhor orgulha-se toda vez que tem a oportunidade de mostrar a casa e o terreno que vive. A casa divide com a esposa, o terreno com o cunhado. Edmar tem três filhas e dois netos, todos vivem lá embaixo na cidade. O frio é uma das coisas que fazem o agricultor permanecer no monte.

Guaiúba

Nascida e criada na serra, Natalia Braga da Silva tem fibra no corpo e nos sonhos. Mãe de Josafan, reencontrou um colega de infância no período em que viveu na cidade de Guaiúba e casou com ele, pai do menino. Dona de casa, Natalia leva os dias tirando coco, dos quais extrai o óleo que vende por encomenda. Sobe e desce a serra a cavalo, o que aprecia desde sempre. Entre falas pausadas, sustenta o sonho de ser policial civil. Doce e acolhedora, abre as portas de sua casa sem se furtar a servir os visitantes com os frutos do próprio trabalho.

Com olhar curioso e fala apressada, Francisco Ventura de Sousa percorre baixo a cima o sítio onde vive e do qual não pretende sair. Agricultor, já andou pelo Brasil do Acre ao Maranhão, mas foi em Guaiúba que encontrou lar. Sem filhos, conta sempre com a visita dos amigos que o acompanham no copo e no banheiro - como chama o açude ao lado da sua casa. Vive na companhia de seus dois cachorros, Duque e Beethoven. Gosta de música, como diz, mas para ele, só se o volume do som não estourar o limite.

Seu nome é Rinaldo Sousa Lopes, mas é conhecido mesmo por Piqué. O apelido surgiu ainda na infância por obra de um tio comerciante, que costumava dizer: “lá vem os pequeno! os piqué!”. Vigilante na Prefeitura de Guaiúba, atua como guia nas horas vagas - para a sorte e alegria desta equipe. Pai do Rômulo, do Caíque e do Joaquim, é atencioso com quem acompanha e conciso no que fala, mas, na hora de defender a Serra de Aratanha, não poupa saliva.

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